quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Balcão Trauma Vol. I, comentário de Pedro Cleto

Há 6 anos, com Sexo, Mentiras e Fotocópias, o país acordou (acordou?) para o drama (o horror, a tragédia…) de um jovem activo (algo raro hoje em dia…) numa busca (desesperada, como ele percebeu depois…) por… uma folha de papel, branca, formato A3.
Nessa demanda (quase existencial), deparou com a ineficácia, a estupidez e a ignorância de uma funcionária de uma loja de fotocópias, modelo vivo do burocrata no mais alto grau de ineficiência da nossa função públic (e não só…).
Hoje (há alguns meses já, para ser mais exacto), o país descobre (descobre?) finalmente o destino do jovem de então, levado de urgência, em estado de choque, numa ambulância, para um hospital nacional – coitado…
Que é como quem diz, uma tragédia nunca vem só, como podem descobrir a seguir (se se atreverem!).

Após viagem (longa e certamente atribulada…) pelos buracos das estradas portuguesas, as SCUT (auto-insustentáveis) ou as suas (inexistentes) alternativas, o trânsito sempre caótico das cidades, pejado de energúmenos ignorantes das regras de circulação, de ciclistas kamikazes e prepotentes passeadores de animais cultivadores de porcaria pelos passeios, o infeliz foi deixado (despejado? nançado?) no serviço de urgência de um qualquer hospital português.
Com ele, nós, leitores de Álvaro, herdeiro de uma longa estirpe de ácidos cronistas sociais, descobrimos (redescobrimos?) a sua nova tragédia, protagonizada por uma médica dependente de ansiolíticos devido aos problemas de relacionamento com a mãe, uma equipa de urgência altamente empenhada… no jogo de futebol em curso, uma funcionária da triagem incapaz de teclar mais de duas palavras (curtas) por hora, outro médico obcecado por sexo e uma (triste galeria) daqueles concidadãos que usam as urgências hospitalares (as filas dos supermercados, as paragens dos autocarros, os elevadores do prédio…) como quem está no sofá de casa a ver os programas da manhã e da tarde da TVI, opinando alarvemente sobre tudo e sobre todos, com estreiteza de vistas e um grande (des)nível intelectual.
Balcão Trauma é, assim, uma nova incursão, mordaz e ácida, pelo (triste) quotidiano nacional, numa combinação de sexo, serviço público e racismo, que alguns (os que nunca passaram por algo semelhante) dirão exagerada (exagerada?), num estilo gráfico simples, próximo do cartoon, mas extremamente eficiente e garante de um elevado ritmo de leitura.
E se é capaz de arrancar sonoras gargalhadas, tantas as situações caóticas que nos são apresentadas, elas podem transformar-se num sorriso amarelo pelo incómodo reconhecimento implícito de que as situações descritas se vão repetindo em hospitais e centros de saúde, um pouco por todo o país e todos nós somos vítimas potenciais…


Daqui:
http://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2014/02/balcao-trauma-vol-i.html