segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Balcão Trauma Vol. I, comentário de Pedro Cleto
Há 6 anos, com Sexo, Mentiras
e Fotocópias, o país acordou (acordou?) para o drama (o horror, a
tragédia…) de um jovem activo (algo raro hoje em dia…) numa busca (desesperada,
como ele percebeu depois…) por… uma folha de papel, branca, formato A3.
Nessa demanda (quase existencial), deparou com a ineficácia,
a estupidez e a ignorância de uma funcionária de uma loja de fotocópias, modelo
vivo do burocrata no mais alto grau de ineficiência da nossa função públic (e
não só…).
Hoje (há alguns meses já, para ser mais exacto), o país
descobre (descobre?) finalmente o destino do jovem de então, levado de urgência,
em estado de choque, numa ambulância, para um hospital nacional – coitado…
Que é como quem diz, uma tragédia nunca vem só, como podem
descobrir a seguir (se se atreverem!).
Após viagem (longa e certamente atribulada…) pelos buracos
das estradas portuguesas, as SCUT (auto-insustentáveis) ou as suas
(inexistentes) alternativas, o trânsito sempre caótico das cidades, pejado de
energúmenos ignorantes das regras de circulação, de ciclistas kamikazes e
prepotentes passeadores de animais cultivadores de porcaria pelos passeios, o infeliz
foi deixado (despejado? nançado?) no serviço de urgência de um qualquer
hospital português.
Com ele, nós, leitores de Álvaro, herdeiro de uma longa
estirpe de ácidos cronistas sociais, descobrimos (redescobrimos?) a sua nova
tragédia, protagonizada por uma médica dependente de ansiolíticos devido aos
problemas de relacionamento com a mãe, uma equipa de urgência altamente
empenhada… no jogo de futebol em curso, uma funcionária da triagem incapaz de
teclar mais de duas palavras (curtas) por hora, outro médico obcecado por sexo
e uma (triste galeria) daqueles concidadãos que usam as urgências hospitalares
(as filas dos supermercados, as paragens dos autocarros, os elevadores do
prédio…) como quem está no sofá de casa a ver os programas da manhã e da tarde
da TVI, opinando alarvemente sobre tudo e sobre todos, com estreiteza de vistas
e um grande (des)nível intelectual.
Balcão Trauma é,
assim, uma nova incursão, mordaz e ácida, pelo (triste) quotidiano nacional, numa
combinação de sexo, serviço público e racismo, que alguns (os que nunca
passaram por algo semelhante) dirão exagerada (exagerada?), num estilo gráfico
simples, próximo do cartoon, mas extremamente eficiente e garante de um elevado
ritmo de leitura.
E se é capaz de arrancar sonoras gargalhadas, tantas as
situações caóticas que nos são apresentadas, elas podem transformar-se num
sorriso amarelo pelo incómodo reconhecimento implícito de que as situações
descritas se vão repetindo em hospitais e centros de saúde, um pouco por todo o
país e todos nós somos vítimas potenciais…
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